Supressão de defesas aéreas na Guerra da Coréia
Os três grandes inimigos das aeronaves de apoio aéreo aproximado e ataque durante a Guerra da Coréia foram a artilharia antiaérea, o mau tempo e as falhas mecânicas. O mau tempo no local era freqüente e como voavam muito o desgaste era intenso assim como a fadiga dos pilotos. A artilharia antiaérea era a maior ameaça pois os MiGs apareciam raramente.
Inicialmente a artilharia antiaérea da Coréia do Norte era pouca e não incomodava. No inicio os soldados da Coréia do Norte nem desciam dos caminhões e eram mortos facilmente sem se dispersar. No fim de outubro de 1950, a Coréia do Norte não mais atuavam de dia com veículos e era difícil para os controladores aéreos nos Mosquitos encontrar alvos.
Com a entrada da China na guerra, a ameaça da artilharia antiaérea aumentou e se concentrava cada vez mais, ficando cada vez mais intensa e precisa. A artilharia antiaérea chinesa era considerada muito eficiente. Contavam até com radar e telemetros ótico na região do vale do Yalu. Os canhões variavam de metralhadoras de 12,7 mm até canhões de 85 mm. A maioria eram canhões automáticos de 37 mm com teto de 1.500 metros. Havia poucas peças de 85 mm guiadas por radar, mas era mais efetivo contra os B-29 menos manobráveis. Foram vistos espoletas de proximidade no fim da guerra, mas era pouco efetiva. Os chineses criavam alvos falsos para atrair os caças para armadilhas (flak trap - flak era o termo usado na segunda guerra para canhão automático em alemão).
As tropas comunistas na frente de combate eram pouco protegidas. Como estavam entrincheiradas eram difíceis de atingir. Então inicialmente a artilharia antiaérea defendia as linhas de comunicações, junções, túneis e alvos mais vulneráveis como ferrovias e pontes onde era mais intensa. Todos os possíveis alvos tinham defesas e pioravam cada vez mais com o passar da guerra. A área atrás da frente de batalha era chamada de "flak alley". Na frente de batalha, a China concentrava sua artilharia antiaérea onde atuaria e seria uma ameaça para as missões de apoio aéreo aproximado. Em janeiro de 1952, a artilharia antiaérea estava muito intensa e precisa sendo ordenado apenas uma passagem no alvo por piloto.
Os pilotos de Mustang preferiam realizar as missões de apoio aéreo aproximado pois se fossem atingidos ainda podiam atingir as linhas amigas e saltar ou fazer um pouso de emergência. Podiam até voltar a pé ou serem resgatado por tropas amigas, o que era difícil nas missões de reconhecimento armado atrás das linhas. As posições das baterias móveis eram difíceis de detectar, mas as armas leves ainda eram a maior ameaça nos ataques dos F-51 Mustang. Um soldado com fuzil podia derrubar um Mustang com um tiro de sorte e eram muitos atirando ao mesmo tempo. Quando viam que os caças estavam sem tanques de Napalm os soldados não hesitavam em atirar de volta visto que metralhando não podiam matar todos.
O fogo leve de terra era fatal para os Mustang e era intenso. As armas leves eram disparadas sob comando e as "balas de prata" causavam várias baixas além do efeito psicológico. Quando atacados, a infantaria da Coréia do Norte deitava com as costas no chão e atiravam para cima. Podiam disparar a frente da aeronave e conseguir atingi-la. Eram tantos tiros que podiam acertar com sorte. O refrigerador do Mustang era muito vulnerável a estas táticas.
A tática dos Mustang contra a artilharia antiaérea foi fazer aproximação retangular com o ângulo final até o alvo de 30 a 45 graus. A perna base era feita acima de 3 mil pés, para ficar longe o máximo possível e evitar mostrar a direção final do ataque. Faziam curvas com o menor raio possível até o alvo e metralhamento a 300 metros de distância ou 500 metros com foguetes. As bombas eram disparadas a no mínimo 500 metros de recuperação e ângulo de 30 graus. As bombas de Napalm eram disparadas a 15 graus e 300 metros de recuperação, atingindo o chão entre 5 a 30 metros antes do alvo. Disparavam as bombas aos pares para evitar assimetria que dificultava as manobras evasivas após o disparo.
Inicialmente voavam o padrão de disparo de estande de tiro e a artilharia antiaérea previa as posições futuras. Passaram a variar a direção de ataque e faziam manobras evasivas constantemente. Se tivessem que atacar o alvo novamente, voavam para um local perto e esperavam cerca de 10 minutos antes de voltar. A artilharia antiaérea geralmente já tinha diminuído a vigilância após este período e pensavam que tinham ido embora.
As táticas dos F-80 para diminuir a ação da artilharia antiaérea era atacar no setor menos defendido. Viravam 90 graus em direção ao alvo, esquadrilha por esquadrilha, disparavam a cerca 6 mil pés, com segurança relativa, e fugiam nivelado o mais rápido possível. Em formações de 12 ou mais aeronaves, a primeira esquadrilha levava bombas com espoleta VT (de proximidade) para supressão de artilharia antiaérea. As explosões causavam baixas nos artilheiros. Em ataques com um número menor, apenas os dois primeiros jatos levavam bombas com munição VT. A reação dos artilheiros foi se esconder nos primeiros ataques e se concentrar nas últimas aeronaves atacando. A reação foi colocar espoletas VT nas aeronaves do centro da formação. Os primeiros ataques eram sempre os causavam maior danos nos alvos.Os F9F Panther da US Navy eram considerados muito efetivos nas missões de supressão de defesas. Em julho de 1951, os chineses começaram a mover artilharia antiaérea para a linha de frente. Os Panther atacavam estas posições com 16 aeronaves com bombas de fragmentação e canhões. Os quatro canhões de 20mm eram a arma principal. Apoiavam as aeronaves a hélice contra alvos bem defendidos. Quando os F4U Corsair e/ou A-1 Skyraider iniciavam os ataques, os Panther mergulhavam a partir de 15 mil pés para atacar com bombas de fragmentação de 260 libras. Na subida do mergulho faziam uma curva de 90 graus e revertiam a direção para voltar e mergulhar nas posições da artilharia atacando os Corsair e Skyraiders que estavam saindo dos ataques. Conseguiam neutralizar a maioria, ou até todas as defesas. Em 1952, metade das missões eram de supressão de defesas. Inicialmente, metade dos jatos atacavam e o resto atacava depois das aeronaves lentas. Depois perceberam que era melhor que todos os jatos atacassem primeiro.
Voar com teto baixo era perigoso pois a silhueta ficava facilmente visível nas nuvens acima, facilita o trabalho da artilharia antiaérea. Voando baixo era para conseguir surpresa, mas podiam avisar a artilharia antiaérea de algum modo, como disparos de fuzil, e por isso geralmente evitavam esta tática.
A tática chinesa era não atacar as aeronaves de reconhecimento e esperar as aeronaves de ataque para atacar concentrado e de surpresa. Escondiam a artilharia antiaérea em terreno vantajoso. A noite, a artilharia antiaérea só atirava após os Mustang atacarem quando estavam subindo para não denunciar a posição. Os B-26 podiam responder com a metralhadora traseira quando saiam do mergulho e também eram usadas para atacar alvos em terra.
Com o aumento da artilharia antiaérea, passaram a fazer supressão para apoiar as missões de apoio aéreo aproximado. Os caças preferiam usar foguetes na missão. No último mês da guerra, faziam supressão de artilharia antiaérea com caças antes dos ataques rotineiramente. Na frente de batalha, a artilharia de campanha fazia supressão para os controladores aéreos nos Mosquitos operarem e para apoiar as missões de apoio aéreo aproximado, mas dava tempo para os artilheiros voltarem para manejar as armas. Passaram a usar táticas de afastar o grupo de ataque, chamar a artilharia com espoleta de proximidade e tempo variável, atacavam a até 2.500 metros em volta do alvo, contra as posições de artilharia antiaérea conhecidas. No final do ataque, disparavam munição com fumaça para indicar que a missão de tiro terminou, mas ainda atacavam por mais três minutos até as aeronaves de apoio aéreo aproximado chegarem.
Em outubro de 1951, iniciaram as táticas de voar missões em esquadrão e não em esquadrilha. Os esquadrões decolavam em intervalos de 5 minutos para evitar congestionar o alvo. Os primeiros faziam supressão de artilharia antiaérea e depois podiam subir para fazer CAP com a atividade dos MiGs aumentando.
Os B-26 fizeram supressão de artilharia antiaérea nos ataques de B-29 contra a hidrelétrica de Sinuiju e os alvos incluíam os faróis de busca. A hidrelétrica ficava na fronteira com a China e os bombardeiros tinham que atacar em paralelo com a fronteira com a artilharia antiaérea posicionada na rota dos B-29. As metralhadoras e as bombas de fragmentação suprimiram a artilharia antiaérea e os faróis de busca com sucesso. O ataque dos B-29 foram realizados com sucesso pois atacavam de 5 em 5 minutos com a artilharia podendo se concentrar nos B-29 o que não aconteceu. Os seis Invader que realizaram a missão sabiam onde a artilharia antiaérea estava pelas fotos de reconhecimento tiradas antes. Nenhum B-29 foi derrubado.A Coréia do Norte tinha radares de busca e a USAF usou os B-26 Ferret nas missões de "radar busting". Os B-26 Invader foram equipados com a antena APA-24 na frente da cabina e atacavam os radares com foguetes e bombas junto com outras aeronaves TB-25J em equipes hunter-killer. Os B-29 usaram os mesmos interferidores Carpet da Segunda Guerra contra os radares de controle de tiro.
Em 721 mil saídas de todos os tipos, a USAF perdeu 1.465 aeronaves. Apenas 139 foram para caças inimigos. Cerca de 500 aeronaves foram perdidas por razões operacionais não causadas pelo inimigo (como falha no motor). Mais de 800 foram vítimas da artilharia antiaérea. As perdas foram de 1,3 por mil saídas para a ação inimiga.
Um F-80 danificado por cabos entre as montanhas. Uma tática da Coréia do Norte era colocar cabos entre as montanhas entre os alvos. A primeira baixa foi um F-82 assim como vários B-26 a noite durante as missões de interdição noturna. Outra tática não convencional foi colocar luzes no lado das montanhas ao lado de estrada para simular comboios e induzir a colisão contra o terreno.
Um B-26 equipado com uma receptor de radar APA-24 na frente da cabina.