Mìssil anti-navio Sea Skua

 

O Sea Skua é um míssil leve anti-navio de curto a médio alcance, guiado por radar, com capacidade qualquer tempo, para ser levado por helicópteros leves.

Foi concebido para conter a ameaça das lanchas rápidas de ataque (FAC -Fast Attac Craft) armadas com mísseis anti-navio. O míssil tem alcance curto, mas permite disparo além do envelope de mísseis superfície-ar, como o míssil SA-N-4 das Nanuchka, umas das ameaças mais prováveis na época.

Após o sucesso dos ataques de mísseis das FAC Osa egípcias contra navios israelenses, os almirantes da Royal Navy perceberam que havia uma ameaça semelhante contra seus navios. A Short propôs o Hellcat, versão ar-superfície do míssil Sea Cat, com guiamento por comando de rádio. A Short citava como vantagem a padronização com o Sea Cat, mas o alcance de 3,5 km colocaria o helicóptero lançador bem dentro do alcance das defesas. Preferiram comprar o Nord AS12 com alcance de 6km. O AS12 foi instalado nos helicópteros Wasp e Wessex. O AS12 teve sucesso relativo nas Malvinas atingindo a vela do submarino Santa Fé.

No meio da década de 1960, as FAC russas começaram a ser equipadas com mísseis SAM. Seria necessário um míssil com alcance bem maior que o AS12. Então foi iniciado o requerimento NSR 6624 de 1969. A Hawker Siddeley propôs o SAMM-10 derivado do míssil ar-ar SRAAM, mas a Royal Navy preferiu o novo projeto da BAC.

O projeto de definição era chamado de CL 834 de abril de 1972. O projeto iniciou em abril de 1974 para substituir o míssil AS12 do helicóptero Wasp (substituído pelo Lynx). Seria um míssil de resposta rápida para os FAC.

O desenvolvimento iniciou em outubro de 1975, com os primeiros disparos em novembro de 1979 com dois disparos a partir de terra e três de helicópteros. Outros testes foram realizados em julho de 1981. O desenvolvimento continuou até 1982, embora o contrato de produção iniciou no meio de 1981. Para diminuir custos, o míssil só usaria tecnologia disponível e comprovada. Os contratantes principais eram a British Aerospace (BAe) e GEC Ferranti Radar Systems Division (antes Ferranti Computer Systems Ltd). Em abril de 1982, a Royal Navy levou alguns mísseis para usar na guerra das Malvinas, antes da avaliação terminar.

O Sea Skua foi liberado para uso no Lynx, Super Lynx, SH-2G Super Seasprite, Agusta-Bell 212ASW e SH-3D Sea King. Foi estudado a instalação no SH-60B Seahawk e nas aeronaves Pilatus Britten-Norman Defender e Dornier 228.


Corte interno simplificado do Sea Skua. 1 -barbatanas fixas; 2 - exaustor; 3 - giroscópios; 4 - eletrônicos; 5 - cabeça de guerra; 6 - radome; 7 - antena do radar; 8 - eletrônicos do radar; 9 - asas móveis; 10 - bateria térmica; 11 - radar altímetro; 12 - motor de sustentação; 13 - motor de aceleração.


O Sea Skua foi proposto para equipar uma versão de patrulha do Britten-Norman Defender.


Imagem inicial da proposta do Sea Skua, com corpo mais delgado.


Proposta do míssil Hellcat que perdeu para o Nord AS12 para equipar os helicópteros Wasp. A dupla Wasp/AS12 foram substituídos pelos Lynx/Sea Skua.

 

Descrição

O míssil tem quatro barbatanas de controle a frente do meio do corpo e quatro barbatanas fixas na traseira. O míssil tem um estreitamento característico antes das barbatanas traseiras onde fica o motor de aceleração.

O míssil tem 2,5 metros de comprimento, diâmetro de 25 cm, envergadura de 72 cm e pesa 147 kg. O espaço disponível nas fragatas limitava o espaço e o comprimento do míssil em 2,65 metros (tamanho de um torpedo anti-submarino). As asas e as barbatanas deveriam ser destacadas para armazenamento. O requerimento cita três mísseis e equipamento associado pesando no máximo 580kg, mas o  peso do míssil permite que o Lynx leve até quatro mísseis.

O sensor radar semi-ativo fica no nariz, seguido da cabeça de guerra e unidade de armação e segurança. No meio do corpo ficam os eletrônicos de controle e atuadores, junto com os giroscópios e garrafas de gás. Na traseira ficam o motor de sustentação e o de aceleração de combustível solido e as barbatanas

O radar semi-ativo da Marconi Defence Systems (agora Alenia Marconi) funciona na banda I (8 a 10 GHz), operando em azimute, com campo de visão de 20 graus. Pode realizar busca de alcance automática e reaquisição se perder o trancamento após o disparo.

O míssil tem uma cabeça de guerra de 30kg com 9kg de explosivo RDX, considerada suficiente para os alvos esperados. A cabeça de guerra é acionada por espoleta de impacto.

O míssil tem motor de aceleração Red Star e motor de sustentação Matapan, ambos da Royal Ordnance (agora Roxel UK). Os motores são ligados simultaneamente no lançamento. O booster fica na parte traseiro na seção mais estreita. Os jatos do motor de sustentação são eliminados por escapes laterais. A velocidade máxima é de Mach 0,85 (1.051 km/h). O alcance máximo oficial é de 15km, mas pode atingir 25km. O tempo de voo até o limite do alcance é de 125 segundos. O alcance mínimo é de 2km.

O radar altímetro é o Thomson-TRT AHV-7 usado pelo Exocet e fabricado sobre licença pela British Aerospace Defence Systems. O radar altímetro tem quatro altitudes pré programadas controlando o perfil sea-skimming de acordo com as condições do mar.

O helicóptero lançador precisa do radar GEC Ferranti Seaspray Mk 3 e console de controle e giroscópio de referencia vertical. O console pesa 202kg e tem uma tela de radar de 28cm de diâmetro e um mostrador de 10,6 cm para controle de tiro para selecionar altitude, míssil e alvo. Um simulador de engajamento Simulated Guided Missile System (SGMS) pode ser instalado na aeronave para treinamento.

Quando o alvo é iluminado pelo radar o operador seleciona o míssil e escolhe uma das quatro altitude pré selecionadas (duas alta e duas baixa), ativando o míssil. O míssil é armado e o operador espera o míssil trancar no alvo antes do lançamento.

Após o disparo, o booster queima por 2 segundos, com o míssil voando com piloto automático. O booster é alijado após terminar de queimar e o seeker controla o míssil com assistência do radar altímetro. Primeiro o míssil desce para uma altitude intermediaria para se aproximar do alvo. Na fase terminal o míssil adota trajetória sea-skimming.

Dois a quatro mísseis podem ser disparado em salva com separação de seis segundos, em altitudes diferentes, contra um alvo único. O sistema pode ser usado em condição de mar até estado 5.


Até quatro mísseis podem ser levados pelo Lynx. Geralmente levam apenas dois mísseis para aumentar a autonomia e melhorar a manobrabilidade.


Container com um Sea Skua. Do lado um Torpedo anti-submarino. O tamanho do Sea Skua foi definido pelo tamanho dos paióis dos navios que eram dimensionados para levar torpedos antisubmarinos.


Teste do Sea Skua da MB contra o contratorpedeiro Santa Catarina. Apesar de projetado contra embarcações leves, o Sea Skua pode ser usado contra navios maiores ao ser disparado em salvas.


O Lynx recebeu um radar com varredura de 360 graus. O novo radar permite iluminar alvos paraa trás, permitindo que o helicóptero fuja após o disparo. Os modelos iniciais forçavam o helicóptero a ficar apontado para o alvo. 

A versão de disparo de navio é chamada Sea Skua SL (Ship-Launched) com radar modificado. O desenvolvimento iniciou em agosto de 1988 com testes em outubro de 1988 pela British Aerospace (depois Matra BAe Dynamics e agora MBDA). O desenvolvimento continuou até junho de 1990 com disparo de um navio. Esta versão foi comprada pelo Kuwait em 1997 para suas FAC Combattante 1, que se interessou pelo míssil após o sucesso na Guerra do Golfo de 1991.

O container de lançamento pesa 800kg com dois mísseis. Fica apontado 11 graus para cima e 20 graus em angulo do centro navio. Na versão SL, um Motor Ignition Control Unit (MICU) substitui o Motor Ignition Delay Unit na traseira do container.

A variante de defesa costeira é chamada Coastal Battery Sea Skua (CBSS) para ser montada em caminhões 6 x 6. Esta versão foi comprada pelo Bharein e Coréia do Sul.

A MBDA propôs o Sea Skua MK 2 em 2006 com alcance aumentado para 30-40 km com novo booster. O novo míssil poderia ser levada pelo EH 101 Merlin para responder ao requerimento FASGW-H (Heavy) da Royal Navy. O míssil teria guiamento por radar ativo, capacidade "dispare-e-esqueça", e disparo de salva contra alvos múltiplos. Outras melhorias seria a possibilidade de adicionar um datalinlk e guiamento duplo com sensor infravermelho adicional. A versão foi cancelada.


Imagem da proposta do do Sea Skua Mk 2.
 

Usuários

O Reino Unido é o usuário principal do Sea Skua. O Reino Unido reformou 430 mísseis entre 1996 e 1999 para extensão da vida útil. Um requerimento para substituir o Sea Skua na UK existe desde 1999 para um míssil de maior alcance e guiamento eletroótico no programa Future Anti-Surface Guided Weapon (FASGW). Inicialmente o novo míssil entraria em serviço em 2009 e depois em 2012.

O Sea Skua foi exportando para o Brasil, Alemanha, Coréia do Sul, Malásia e Turquia. Até 1993, 1.088 mísseis foram fabricados, sem considerar os de testes. O custo em 1995 era de US$ 316 mil por míssil. O míssil ainda estava em produção em 2003.

O Kuwait comprou a versão SL em 1997 para equipar oito FAC classe BR37M (depois Combattante I - Classe Umm Al Maradem). Os navios foram equipados com o radar Sea Skpray 3000 para poder disparar o míssil. A Coréia do Sul comprou em 1994.

Em outubro de 2001, a Malásia comprou o Sea Skua para equipar seis Super Lynx 300 por RM 104 milhões. A MB comprou cerca de 40 mísseis para seus Lynx e Super Lynx. A Alemanha comprou 156 Sea Skua  (140 reais e 12 de treino) para seus Sea King em maio de 1984. Os mísseis foram retirados de serviço em 2012. A Turquia comprou 120 mísseis para 10 helicópteros AB 212.

A Coréia do Sul comprou 126 mísseis para equipar seus Lynx, baterias em terra e algumas lanchas patrulha. A Coréia do Sul disparou 23 mísseis Sea Skua de julho de 2008 a julho de 2010 com 80% de sucesso.


Alemanha comprou 22 Sea King para substituir suas aeronaves anfíbias Grumman Albatroz. Os helicópteros foram equipados com o radar Sea Spray no nariz e com capacidade de levar quatro mísseis Sea Skua.


Disparo do Sea Skua SL. O Sea Skua SL foi comprado pela Coréia do Sul em 1994. EM 2006 a Coréia do Sul realizou dois disparos sendo que o primeiro não explodiu.


O Sea Skua foi proposto para equipar uma versão embarcada do helicóptero de ataque A129.

Uso em Combate

O míssil foi usado com sucesso nas Malvinas, apesar de entrar em serviço formal em 1983. Um total de 27 helicópteros Lynx foram embarcados nos navios indo para as Malvinas em 1982. A maioria dos navios não levou o Sea Skua nos seus paióis.

Os projéteis disparados eram mísseis de desenvolvimento. Oficialmente teve 87% sucesso no conflito em oito disparos, as vezes em péssimas condições de tempo. Foram afundados dois navio e desabilitando um terceiro. A Argentinos citam que afundou o cargueiro Rio Carcarana (8.500 t), depois encalhado e atacado por Harrier, e danificado intensamente a embarcação de patrulha Alferez Sobral.

Na noite do ia 3 de maio, foram realizado quatro disparos contra o ARA Alferes Sobral de 800 toneladas disparados por dois Lynx do HMS Coventry e HMS Glasgow. Primeiro o Lynx do HMS Conventry disparou dois mísseis a 13 km de distância. Na confusão do ataque, o Lynx do HMS Glasgow disparou outros dois mísseis. O navio estava procurando sobreviventes de um Canberra derrubado pelos Sea Harrier e foi localizado originalmente pelos Sea King do esquadrão 826. Dois mísseis atingiram a ponte do navio, outro um bote salva-vidas, e um passou acima do navio. O navio voltou para Puerto Deseado sem auxilio.

No dia 23 de maio, outros dois mísseis do Lynx do HMS Antelope destruíram o Rio Carcarana (8.500 grt). Outros dois atingiram o navio de patrulha Rio Iguazu.


Um Lynx equipado com um Sea Skua decolando do HMS Hermes durante o conflito das Malvinas.

O Sea Skua entrou novamente em combate na Guerra do Golfo de 1991. Seis helicópteros Lynx foram deslocados em quatro fragatas e dois contratorpedeiros para o Golfo Pérsico. Conseguiram 15 kill, cinco por uma única aeronave do HMS Cardiff.

Cerca de 26 mísseis Sea Skua foram disparados na Guerra do Golfo em 1991 em 15 engajamento, com 80% de sucesso. Foram afundados e danificando 11 navios iraquianos. Os mísseis foram modificados para atingir alvos com baixa borda livre e com o atraso na espoleta diminuído.

Em 24 de janeiro, o Lynx 335 atacou três navios iraquianos, afundando dois caça-minas, ao largo da ilha de Quarah. O Lynx tentou capturar o terceiro lança-minas, mas a tripulação afundou o navio e 22 tripulantes foram pegos como prisioneiros.

Na madrugada de 30 de janeiro, os iraquianos resolveram atacar a costa saudita como parte da batalha de Khafji usando os diversos meios de sua marinha. Um Lynx patrulhando a costa perto da cidade de Khafji detectou um alvo de superfície no radar foi detectado se movimento próximo a ilha Failaka.

Ao se aproximar, o alvo transformou-se em 17 pequenas embarcações carregando tropas especiais iraquianas para um assalto. Imediatamente o Lynx chamou por mais auxílio e o helicóptero da HMS Brazen atendeu ao chamado. Dois Lynx da HMS Brazen e Gloucester atacaram e afundaram uma embarcação enquanto o Lynx 335 do HMS Cardif afundou outro. O restou foi danificado, destruído ou disperso por aeronaves embarcadas e helicópteros Sea King. Os A-6E Intruder atacaram com bombas de precisão. Ao final do dia, cinco foram afundadas e as demais se evadiram para a costa kuaitiana.

Os pacotes de ataque naval voavam rotineiramente missões de supressão marítima na área, caçando forças navais iraquianas na região. O pacotes consistiam de dois A-6E e um EA-6B para jamear os radares iraquianos. Os EA-6B estavam equipados com mísseis HARM para destruir os radares das embarcações.

Nos dois dias subsequentes, mais unidades navais iraquianas partiram para o ataque e os Lynx responderam com missões Sea Skua. Somente no dia 31, dezessete embarcações foram afundadas pela dupla Lynx/Jaguar. Algumas unidades atacadas por Sea Skua foram abandonadas pela tripulação e os A-6 Intruder da US Navy terminaram o serviço. Ao final da batalha pelo Canal de Bubiyan,

Na manhã seguinte, unidades navais iraquianas no norte do Golfo tentaram fugir para o Irã e foram interceptados. Em mais de 13 horas, navios, helicópteros e aeronaves de ataque perseguiram os navios iraquianos. Foram destruídos sete FAC, três navios anfíbios, um lança minas e nove outras pequenas embarcações ao redor da ilha de Bubiyan. As forças da US Navy tiveram muito trabalho com os prisionais iraquianos na água. Apenas um navio iraquiano furou o bloqueio.

No dia primeiro de fevereiro, outro comboio de três navios de desembarque classe Polnocny e três TNC-45 capturados e um lança minas T-43 foram detectados na mesma área. O Lynx do HMS Gloucester destruiu uma TNC-45 enquanto os Lynx da HMS Cardiff e HMS Brazen atacaram o T43. O Lynx da Gloucester destruíram outros dois TNC-45. Outras unidades foram danificadas como um Polnochny que foi depois atacados por caças Jaguar da RAF com foguetes.

No dia 8 de fevereiro, o Lynx 335 atacou patrulheiro classe Zhuk e afundou outro no dia 11. No dia 15 de fevereiro, o Lynx da HMS Manchester afundou um navio de resgate Aka. No dia 16 de fevereiro o Lynx do HMS Gloucester destruiu uma Polonchy.

Os Lynx dispararam 25 mísseis e 18 atingiram o alvo. Os helicópteros Panthers da Royal Saudi Navy, armados com mísseis AS.15TT, concorrente direto do Sea Sku, tiveram o crédito de cinco barcos patrulha iraquianos afundados.


Uma TCN-45 capturada pelo Iraque atacada pelo Sea Skua. O efeito mais esperado do Sea Skua era destruir os mísseis das FAC e não afundar o navio. Durante as missões no Golfo, alguns Lynx foram atacados por fogo antiaéreo. O principal problema que os Lynx encontraram foi a necessidade de permanecerem no ar, iluminando o alvo para o Sea Skua. Isso deixava o helicóptero vulnerável ao radar dos FAC e seus canhões. Por sorte, durante a aproximação do Sea Skua, as FAC aceleravam para tentar escapar do míssil e a vibração da embarcação desligava o radar de direção de tiro.




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